quinta-feira, 22 de maio de 2008

OESP - Minc diz que desmatamento cresceu

Por Felipe Werneck, RIO

Sem citar dados, novo ministro provoca governador Maggi: ‘Para variar, mais de 60% em qual Estado? Mato Grosso’

A seis dias de assumir oficialmente o ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc afirmou ontem que o desmatamento na Amazônia aumentou em abril. Sem divulgar todos os dados, provocou o governador Blairo Maggi (PR), aliado do governo, citando Mato Grosso como um dos responsáveis pela alta da devastação. Ao comentar uma entrevista do governador, contrário à proposta de ceder funcionários do Estado para a criação da Força Nacional Florestal, sugerida por Minc ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o futuro ministro disse: “Vai ser um dado ruim, um dado de aumento (do desmatamento). E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso”, disse Minc, no Rio.

Maggi não se manifestou sobre as declarações de Minc. Informou apenas que aguardará a divulgação, na segunda-feira, do relatório sobre desmatamento na Amazônia feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O governo de Mato Grosso prepara um outro estudo para rebater as informações sobre o aumento. Relatório da Secretaria Estadual de Meio Ambiente apontará, porém, que os novos desmates caíram 80% no primeiro bimestre de 2008 em comparação ao mesmo período de 2007.

O pesquisador do Imazon Adalberto Veríssimo diz que o aumento anunciado pelo ministro não surpreende, pois segue a tendência de crescimento do índice de desmatamento observada desde agosto de 2007. “Este ano está sendo difícil para a Amazônia, as medidas tomadas pelo governo para combater a devastação, apesar de duras, são ainda insuficientes. (...) Os dados do INPE confirmam que não é possível flexibilizar as normas, como pede o governador de Mato Grosso”, diz Veríssimo.

Para Minc, há um “certo egoísmo” de Maggi, considerado o maior produtor de soja. Anteontem, após reunião com o coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ministro Mangabeira Unger, o governador de Mato Grosso declarou, em entrevista ao jornal O Globo: “Acho até que pode criar (guarda florestal). Mas não conte com a nossa polícia. Já temos pouco efetivo para cuidar do povo. Não tenho soldados para proteger a floresta. Tragam gente do Sul, Curitiba, Porto Alegre.”

Minc afirmou que Maggi, como todo homem público, “tem que assumir suas responsabilidades”. Ele disse ter achado “curioso” o fato de o governador se dizer favorável à criação da tropa, mas recusar ajuda. “A partir de agora o Blairo não deve brigar comigo, deve brigar com o presidente Lula, que já bateu o martelo (sobre a criação da força, com policiais e bombeiros dos Estados).” Ao chegar à sede da Secretaria de Estado do Ambiente no Rio, que chefiava, o futuro ministro, cuja posse está marcada para terça, brincou: “Vocês querem saber se o Blairo Maggi vai ser o comandante da minha Força Nacional Florestal?” O comandante da futura tropa será o tenente-coronel José Maurício Padrone, até ontem responsável pela Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais, da secretaria fluminense.

Na entrevista, Minc também procurou demonstrar tom conciliador. “Não quero impor nada a ninguém. Estou chegando agora, ainda nem tomei posse. Não quero criar esse tipo de polêmica.” Após ter o seu nome indicado para o ministério, Minc já havia criado polêmica com o governador ao afirmar que, se deixassem, Maggi “plantaria soja até nos Andes”. Na ocasião, Maggi disse considerar as declarações “descabidas, inoportunas, extemporâneas e impróprias”.

PROPOSTAS

O novo ministro disse que um zoneamento econômico-ecológico com regras claras será o “canal de diálogo” com o agronegócio. Ele afirmou que irá “tratar diferentemente setores mais avançados”, sem especificá-los. “Hoje em dia temos um setor que depende de ter toda a sua cadeia produtiva auditada a carimbada para conseguir vender no exterior. Esse, quer o diálogo. E tem outro, atrasadíssimo, que está convertendo a Amazônia em pasto. Primeiro tira árvore, depois põe o gado, e depois alguns colocam a sua sojinha.”

Minc irá à Alemanha no dia 29 e disse que voltará com 150 milhões de euros para o programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) - a visita foi agendada na gestão de Marina Silva. “Lá, vou tentar lançar o Arpama, de áreas protegidas da mata atlântica.” Reafirmou que o licenciamento ambiental será “agilizado, com todo o rigor”, pelo novo presidente do Ibama, Roberto Messias. “É claro que a orientação é essa. Ele vai fazer exatamente isso. Sou ligeiramente maluco, mas não tanto assim.” Adversário da energia nuclear, Minc disse que o licenciamento de Angra 3 será “técnico”.

COLABOROU NELSON FRANCISCO

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