quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Menos vulnerável, Brasil não deve receber dinheiro "verde"

ANÁLISE MAIS DO QUE CRIAR FUNDOS, PAÍSES RICOS DEVERIAM DISCUTIR METAS CONCRETAS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES

DOS ENVIADOS A CANCÚN

Um ano se passou desde o fiasco de Copenhague, e mesmo o resultado modesto da COP-15 enfrentou dificuldade para ser sacramentado nesta COP-16, em Cancún.

Nos salões do resort Moon Palace, apelidado "Mundo da Lua", não se discutiram de modo concreto novas metas de redução de gases do efeito estufa, necessárias para manter o aquecimento abaixo dos 2C seguros.

A conferência andou de lado, por assim dizer, com pequenos avanços localizados, como algum detalhamento do acordo sobre redução de desmatamento (Redd+) e de fundos para medidas de mitigação, como redução de desmatamento, e adaptação.

Os países ricos se comprometeram a desembolsar, até 2012, um valor "aproximado" de US$ 30 bilhões. É o chamado "fast start", dinheiro para países menos desenvolvidos começarem a se preparar para a a mudança do clima e impactos já em curso, como erosão da costa e salinização dos lençóis freáticos.

Além disso, as nações desenvolvidas prometem aumentar doações privadas e governamentais, até 2020, para a casa dos US$ 100 bilhões anuais.

O Fundo Verde criado em Cancún, que receberá parte "significativa"desses fundos, começa sob administração provisória do Banco Mundial, mas supervisionado por um conselho em que países pobres terão no mínimo representação paritária.

É pouco provável que o Fundo Verde beneficie diretamente o Brasil. A prioridade fica com os países mais atrasados e vulneráveis, como os da África.

Além disso, o país já criou o Fundo Amazônia, na área de florestas, com a doação de mais de US$ 100 milhões da Noruega, em 2009, primeira parcela do valor de US$ 1 bilhão prometido pelo país nórdico. Por fim, em Copenhague, o presidente Lula já havia oferecido a possibilidade de o Brasil entrar como doador no fundo.

Para que avanços mais reais acontençam, é necessário resolver um mal que se agrava a cada COP: os EUA não estão preparados para assumir compromissos de redução de emissões proporcionais a seu peso como poluidor, hoje e no passado.

Os países que subscreveram o Protocolo de Kyoto já estão fazendo seus cortes, como a União Europeia e o Japão. Até países em desenvolvimento que são grandes emissores -Brasil, China e Índia- estão fazendo cortes.

A cada ano que passa, o passivo dos EUA aumenta. Se não for resgatado, o sistema climático quebra. É quase certo que essa dívida sofrerá algum desconto, por impagável na totalidade.

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