quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Brasil era visto como figura-chave na conferência

Telegramas mostram mudança da posição do país e discordância entre ministérios

Cristina Azevedo

Às vésperas da Convenção da ONU para o Clima, em Copenhague, os Estados Unidos viam o Brasil com um papel central na discussão sobre o assunto, não apenas por abrigar 70% da Floresta Amazônica, como porque poderia influenciar outros países como China e Índia, revelam documentos vazados pelo site WikiLeaks aos quais O GLOBO teve acesso. Os 26 despachos da embaixada americana em Brasília ao Departamento de Estado cobrem o período de 20 de outubro de 2008 a 10 de fevereiro deste ano e mostram como a posição brasileira mudou na visão dos EUA, "de um obstáculo a uma boa conclusão da COP-15", para uma posição que não fosse negativa, tornando-se mesmo positiva em questões-chave.

Fica clara a discordância entre os ministérios de Relações Exteriores e Meio Ambiente. "O MRE é provavelmente mais sensível a reações de China, Índia e outros em desenvolvimento se discordar deles, concordando que países em desenvolvimento deveriam assumir mais responsabilidades na questão do aquecimento global", diz um telegrama de 4 de junho de 2009, enquanto que "o MMA parece muito mais preocupado em resolver o problema".

Segundo um despacho do então embaixador Clifford Sobel, os esforços para que China e Índia assumam metas "pode depender da posição" do Brasil. Ele sugere que os EUA iniciem uma campanha para dissipar as preocupações brasileiras em relação aos efeitos de um acordo sobre "a capacidade de promover o crescimento", diz o texto de 8 de janeiro de 2009.

Os interesses brasileiros seriam "crescimento, crescimento, crescimento", diz. Esse enfoque em detrimento da questão ambiental é visto como motivo da saída de Marina Silva do ministério. Enquanto Marina é descrita como "inflexível", seu sucessor, Carlos Minc, é visto como "mais pragmático". Sobel destaca que sua entrada é uma "oportunidade perfeita" para aumentar a cooperação entre os dois países e também a proximidade do ministro com a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.

A entrada de Marina na campanha presidencial é mostrada como um motor para o Brasil mudar de posição e concordar em reduzir as emissões de gás estufa entre 36,1% e 38,9% por volta de 2020. "Isso torna o meio ambiente um tema mais proeminente na disputa" e mais importante para Dilma, diz o comunicado.

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