Daniela Chivantti
Ambiente: Sede da CoP-16, cidade simboliza desafios da mudança do clima
Cancún está à procura de um plano B. O paraíso mexicano dos anos 80 sofre com decisões pouco sustentáveis do passado e tem à frente o desafio de adaptar-se à mudança climática para sobreviver. Na arena das negociações internacionais acontece o mesmo. A CoP-16, a conferência do clima das Nações Unidas que entra hoje na semana final, procura amarrar algum tipo de acordo para garantir a continuidade do processo.
Em Copenhague, em 2009, dizia-se que não havia plano B e que um acordo forte, ambicioso e juridicamente vinculante era imprescindível. Não foi o que se viu e agora ninguém mais espera por isso - principalmente pela pá de cal que os EUA lançam sobre a conversa. Mas a CoP-16 pode terminar com o que os negociadores dos 192 países aqui reunidos chamam de pacote equilibrado de decisões.
A semana abre com a chegada dos ministros de Estado e dois textos de negociação sobre a mesa: um dos países industrializados que têm metas a cumprir no Protocolo de Kyoto (à exceção dos EUA) e outro, que trabalha num horizonte de longo prazo, e inclui a todos. É daí que pode sair algo sobre proteção de florestas (dentro do mecanismo de Redd, a Redução de Emissões sobre Desmatamento e Degradação), adaptação à mudança do clima, recursos financeiros, transferência de tecnologia. São os pontos-chave da negociação abordados de maneira genérica para serem detalhados depois.
Mesmo este plano B tem problemas. A mais forte oposição entre ricos de um lado, emergentes e em desenvolvimento do outro, é a de sempre: a continuidade de Kyoto com novas metas para depois de 2012. A semana começou mal, avalia um negociador brasileiro, comentando a declaração do Japão que não quer continuar com Kyoto já que o esforço não inclui os EUA (e nem os emergentes).
A continuidade de Kyoto é ponto que os países em desenvolvimento não abre mão. Queremos ver sinais positivos, diz o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe dos negociadores brasileiros. O protocolo está longe de resolver o problema, mas é o único acordo global juridicamente vinculante que existe e estabelece regras que definem, por exemplo, mercados de carbono e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Se Kyoto cair por terra, sem nada no lugar, todo o esforço será perdido, diz o ambientalista Fábio Feldmann. Como ficam os empresários que investem nisso?.
O cenário da indefinição, a turística Cancún, é exemplo de um paraíso natural que o homem aproveitou mal e que sofre intensos impactos climáticos. O mar que os 12 milhões de turistas anuais enxergam pela janela dos resorts gigantes é o que a cidade tem de maravilhoso - todo o resto é de mentira.
A areia branca dos 80 hotéis erguidos sobre um manguezal, nos 20 km do bulevard Kululcan, não estava aqui há oito meses. Tem que ser continuamente reposta porque o vento bate nos hotéis e carrega a areia. Se o mar subir 0,5 metro, todos os lobbies dos hotéis ficarão debaixo dágua. O manguezal era a barreira natural à ação das tormentas e furacões a que esta área está exposta - e que, segundo cenários científicos, devem aumentar de freqüência e intensidade.
O problema da península de Yucatán que pode tornar-se crônico é a água, diz Paulo Navarro, diretor do centro ecológico Akumal, na vizinha Tulum, a 120 km. A região está sobre um aqüífero superficial e o aumento do nível do mar causará a salinização da água. Não há nada a fazer para evitar, diz. O que se deve fazer é manter a cobertura vegetal para garantir a formação das chuvas e ajudar a formação do aquífero.
O risco do México em relação à mudança climática é a falta ou o excesso de água, diz Sylvia Marin, diretora de mudança climática do WWF para a América Latina e Caribe. A vulnerabilidade do país é a ameaça de desertificação ao Norte e excesso de chuvas ao Sul. Mas o governo está atento e quer fazer correções. A proteção aos manguezais virou lei e o México já tem um plano de adaptação á mudança climática.
Crédito da imagem: Associated Press
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