Em meio a mais países que se recusaram a assinar uma segunda etapa do Protocolo de Kyoto, a palavra de chave na Conferência do Clima que ocorre em Cancún é equilíbrio.
Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, afirmou que muitos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, esperam pela prorrogação do protocolo, mas que é preciso flexibilidade para se chegar a um acordo.
Nesta sexta-feira (3), representantes da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) acusaram alguns países desenvolvidos de estarem boicotando o segundo período de metas de comprometimento. Figueres confirmou que Canadá e Rússia já se mostram contrários e a Austrália deve ir pelo mesmo caminho.
Enquanto isso, EUA, União Europeia e Brasil repetem seu discurso desde o início da COP-16: o resultado da Conferência deve ser um pacote balanceado. "Equilíbrio é palavra mágica", disse o negociador da Comissão Europeia, Artur Runge-Metzger. Segundo ele, não é possível só um grupo ganhar tudo e outro não ganhar nada.
Todd Stern, enviado especial dos EUA sobre mudanças climáticas, usou uma analogia: "Equilíbrio é a chave para destrancar a porta de Cancún". Ele acredita que o resultado da Conferência possa dar continuidade ao Acordo de Copenhague, abarcando transferência de tecnologia, mitigação, financiamento e adaptação. "É tudo parte de um pacote que se balanceia, um é tão importante quanto o outro. Eles se movem juntos".
O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, negociador chefe do Brasil, declarou que muito trabalho duro e decisões difíceis estão sendo feitas. "Todos vamos fazer concessões, ninguém vai sair daqui com tudo o que quer. Quando todo mundo está infeliz é que temos um bom resultado".
"Nenhuma questão será totalmente fechada agora, não vamos decidir sobre números, vamos decidir sobre processos. Vamos dar mais um passo em direção a um pacote completo", explicou Metzger. Para os europeus, é possível que se haja um comprometimento tanto dos países de Kyoto quanto daqueles que não estão no protocolo.
OS EUA concordam. Segundo o negociador americano, no Acordo de Copenhague, os países já decidiram adotar medidas de redução dos gases do efeito estufa. Este seria um ponto de partida, e não é o momento, para eles, de exigir um acordo com um compromisso formal. "Temos que progredir no mundo real. Não estamos prontos para um acordo vinculante de todos os países ainda. Queremos isso a longo prazo, mas temos que fazer algo no meio termo, com compromisso e transparência".
O embaixador brasileiro conta que os países estão em um processo intenso e que alguns têm voltado para velhas posições. "Cancún é o jogo final, precisamos de comprometimento. Estamos aqui com o espírito de fazer isso".
Segundo Peter Wittoeck, negociador da Bélgica, país que preside a UE, um comprometimento dos países da Alba é essencial. "Eles podem negociar com o resto da casa ou fazer como fizeram em Copenhague e falar não e fazer tudo fracassar de novo, porque esta casa é feita de consenso".
Uma decisão final da COP só é oficial se for aceita unanimemente por todos os participantes da Conferência. Em Copenhague, os países da Alba foram contrários ao Acordo apresentado de última hora, que trouxe pontos em comuns como metas voluntárias de cortes, compromisso em impedir um aumento da temperatura acima dos 2ºC e investimentir em fundos para redução de emissões e adaptação às mudanças.
O Protocolo de Kyoto exige que um grupo de países desenvolvidos (menos os EUA) reduzam suas emissões de gases até 2012 a 5% menos do que era lançado em 1990. Como o prazo final está se aproximando, é discutida a prolongação do acordo para manter a obrigatoriedade de metas.
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