domingo, 3 de outubro de 2010

Garimpo clandestino devasta floresta no sul do Amazonas

Órgão federal diz que extração de ouro é irregular e contamina rio com mercúrio

Cooperativa minimiza danos ambientais e diz que produção de ouro diminuiu muito -de 40 para 3 quilos por mês

KÁTIA BRASIL
DE MANAUS

Uma área de 1 km2 de floresta -algo em torno de cem campos de futebol- foi devastada pelo garimpo clandestino do Juma, em Novo Aripuanã (AM), diz levantamento do Ibama.

"A extensão da degradação é grande, [há] erosão do solo [e] assoreamento de leito de igarapés. A ocupação humana desordenada causa problemas como lixo e doenças", afirma o analista ambiental Jerfferson Lobato dos Santos, da Divisão de Controle e Fiscalização do Ibama.

Aberto no início de 2007, o garimpo do Juma atraiu mais de 10 mil pessoas de várias partes do país ao sul do Amazonas. Uma comissão coordenada pela Casa Civil, então chefiada por Dilma Rousseff, tentou viabilizar a exploração sustentável do garimpo após pedido do ex-governador Eduardo Braga (PMDB).

Mas com o desmatamento e assoreamento dos rios descontrolados, o Ibama barrou a atividade na Justiça Federal. O licenciamento do garimpo seria autorizado pelo governo do Amazonas.

Imagens áreas mostram o resultado da ação devastadora contra a floresta em uma das regiões mais intocadas da Amazônia. Na busca de ouro, os garimpeiros abriram crateras na mata virgem, a maior com 50 metros de largura. Com picaretas, eles escavaram encostas e fizeram nelas galerias e trincheiras.

Nas galerias abriram buracos de oito metros de profundidade, o que lembra o garimpo de Serra Pelada, no Pará. "É uma degradação grande, só recuperável com projetos realizados pelo órgão estadual", afirma Santos.

Ao menos 500 pessoas continuam no garimpo de forma clandestina, Por isso, diz o Ibama, o dano ambiental pode ser maior -o que é negado pela cooperativa dos garimpeiros do Juma.

A entidade diz que 40 quilos de ouro chegaram a ser tirados por mês. "Agora eles tiram dois, três quilos, mas o garimpo só tem associados da cooperativa, não entra mais ninguém", diz o garimpeiro Paulo César Lourenço.

O DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), órgão federal que autoriza a lavra, diz que o garimpo do Juma está totalmente irregular, contaminando com mercúrio o rio que dá nome à região. "Por que não mandam fechar o garimpo?", questiona o geólogo Fred Cruz, chefe de serviço do DNPM, órgão que faz parte da comissão da Casa Civil.

À Folha o Ipaam (Instituto Proteção Ambiental do Amazonas), órgão estadual de combate o desmatamento, disse que o dano ambiental provocado pelo garimpo do Juma está em fase de dimensionamento e que o objetivo do governo é reabrir a lavra.

O órgão, diz o Ipaam, está orientando os garimpeiros sobre o licenciamento da atividade e instruindo-os a evitar a contaminação: "Está sendo delineado um projeto de recuperação da área por meio de viveiro de mudas diversas a ser executado pelos próprios garimpeiros".

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