Objetivo é atrair eleitores de Marina; quando ministras, as duas tiveram embates frequentes na área ambiental
Petista é apontada como um dos pivôs da saída da senadora do governo; infraestrutura era maior tema de discórdia
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Para atrair os votos ambientais de Marina Silva (PV), o PT está tentando passar uma demão de tinta verde em Dilma Rousseff. A operação deve começar por um ataque à reforma do Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), aprovada em comissão especial da Câmara e que aguarda votação em plenário.
Será difícil, porém, apagar a fama de antiambientalista de Dilma. A ex-ministra da Casa Civil sempre antagonizou com Marina, e é frequentemente apontada como um dos pivôs da saída da senadora do governo e do PT.
Na opinião de gente que acompanhou os embates entre as duas, Dilma potencializou um desenvolvimentismo que o próprio Lula não manifestava no começo do governo, e que culminou com a retirada de apoio do presidente à pasta de Marina. Essas fraturas devem dificultar a aproximação entre Marina e a petista agora.
Todas as negociações entre a Casa Civil e o Meio Ambiente nos três anos em que as duas ministras conviveram precisaram "subir" para a arbitragem presidencial.
O pomo da discórdia, desde o início, foram as obras de infraestrutura.
Já em 2005, antes do lançamento do PAC, Dilma mandou excluir a componente de infraestrutura do PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia), coordenado por ela. O plano, assim, deixava de abordar alguns dos principais vetores da devastação -hidrelétricas e estradas.
Em 2007, com o PAC na rua, Dilma pressionou o Ministério do Meio Ambiente pela liberação de licença para as bilionárias hidrelétricas do rio Madeira (RO). O episódio, conhecido como a "crise do bagre", terminou com o atropelo de um parecer do Ibama contrário à licença.
SUBVERSÃO
Dilma também manobrou contra Marina num ponto-chave para a conservação ambiental: a criação de áreas protegidas.
O trâmite normal inclui o encaminhamento do processo, após sua conclusão, à Casa Civil para consulta a outros ministérios.
Segundo fontes da área, Dilma subverteu esse rito, e a criação de novas áreas passou a depender da bênção do Ministério de Minas e Energia. Onde houvesse cachoeiras com potencial hidrelétrico, a criação era barrada.
Uma das principais unidades de conservação propostas por Marina, a Reserva Extrativista do Médio Xingu, foi vetada porque poderia atrapalhar a construção de barragens adicionais à usina de Belo Monte.
O resultado é que a criação de áreas protegidas caiu pela metade desde o lançamento do PAC.
Isso ficou mais evidente após a saída de Marina: na gestão de Carlos Minc, foram criadas sete unidades de conservação e assinadas 152 licenças para obras -contrariando o mote dele de "dois para lá, dois para cá" (duas licenças, dois parques).
Em 2008, quando os governadores da Amazônia pressionaram pela implosão do decreto presidencial -costurado por Marina- que determinava o corte de crédito a desmatadores, Dilma e Lula transmitiram o recado a Minc. Ele se recusou a assumir o ministério se o decreto fosse derrubado.
A manutenção do instrumento revelou-se crucial para a queda recorde no desmatamento, que o PT tentará capitalizar na eleição.
Minc discorda das críticas feitas às credenciais verdes da companheira.
"De 11 lutas que eu travei no ministério, nas 8 que ganhei tive o apoio da Dilma."
Ele cita a criação do Fundo Amazônia (também articulada por Marina). "Bati o pé e ela ficou do meu lado."
Minc diz ainda que Dilma apoiou a proibição do plantio de cana no Pantanal e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para turbinas eólicas.
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