Campanha do PSDB tenta pintar seu candidato de verde para os ciberativistas e colaboradores do Greenpeace. É puro discurso. Falta compromisso com um futuro diferente
Os ciberativistas e colaboradores que pediram - enviando petição do Greenpeace - para os presidenciáveis detalharem seus planos para manter as florestas em pé e investir em energia renovável, andam recebendo uma resposta da equipe do candidato José serra (PSDB). Ela inclusive usa o símbolo da campanha "Vote por um Brasil mais verde e limpo", o que tem levado alguns de seus destinatários a contundi-la com um email oficial do Greenpeace. Mas basta ler o texto para perceber o engano. Nele não há de fato uma proposta concreta para tornar o Brasil mais verde e limpo.
Diz o email que Serra não é tucano apenas por filiação partidária, mas por ser um legítimo ambientalista - ecoando frase do candidato que seu ambientalismo é fruto de sua convicção. Como exemplo dela, cita a lei do clima, aprovada em seu governo, para controlar as emissões de gases que causam o aquecimento global no estado de São Paulo. A lei é importante e inovadora, mas o candidato esquece de mencionar que ela não só ainda não foi posta em prática como deixou de fora - por esquecimento ou propósito, coisa que Serra nunca explicou - o setor de transporte, maior responsável por emissões nas fronteiras paulistas.
O e-mail convida quem assinou a petição do Greenpeace a conhecer no site da campanha de Serra uma série de outras ações que ele teria tomado, como governador, para proteger a natureza. Seu texto alega serem muitas. Não são. Em sua maioria não passam de uma adaptação de velhas iniciativas, mais voltadas para dar uma mão de tinta verde a um modelo ultrapassado de desenvolvimento do que para apontar um caminho novo, onde a prosperidade do país deixaria de depender da destruição de sua biodiversidade e recursos naturais.
Serra, segundo seu site, teria evitado a emissão de milhões de toneladas de CO2 na atmosfera com projetos de mecanização da cultura da cana no Estado, que dispensariam a queima da palha. Há um mérito em incentivar a mecanização da indústria canavieira. Mas ele ainda se materializa lentamente, pois a queima não foi proibida.
Ou melhor. Ela está meio proibida. Serra baixou resolução para este ano impedindo que se ateasse fogo aos campos de cana no estado entre junho e novembro. Mas só entre 6 da manhã e 10 horas da noite. Na escuridão da madrugada, os céus de São Paulo continuam sendo iluminados pelas chamas das queimadas.
Para a Amazônia, a resposta de Serra aos eleitores traz algumas ações que foram tomadas pelo município e pelo Estado de São Paulo para evitar a entrada de madeira ilegal, principal destino desse recurso. São políticas importantes, que ajudam muito a fechar o mercado para produtos irregulares.
O coração de seu plano para a Amazônia, descrito no site, é constrangedor. Ele fala do imenso potencial hidrelétrico na região - pede, numa mera nota de rodapé, que se preste atenção aos seus impactos sociais e ambientais - e fala de grandes obras para escoar produção na região. Grandes obras, historicamente, sempre implicaram em ondas de devastação. Não há uma proposta como conciliá-las, incluindo aí a agricultura e a pecuária, com a conservação ambiental. Este é o modelo proposto no Desmatamento Zero.
O mais grave da resposta de Serra não é o que ele diz, mas o que ele não diz. Perde a oportunidade de detalhar um projeto e escolhe apenas apontar para ações isoladas. Os temas ambientais mais pertinentes hoje no Brasil não merecem uma linha. Ele nada fala sobre assumir compromisso com o desmatamento zero e não diz aos nossos ciberativistas e colaboradores como pretende lidar com a ofensiva ruralista contra o Código Florestal se virar presidente. Tampouco diz como pretende ampliar o uso de fontes solar e eólica na geração de eletricidade do país.
Em tempo, ainda que mal, Serra mandou resposta à petição do Greenpeace. Dilma, por enquanto, segue em silêncio.
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