Josette Goulart
Uma Belo Horizonte ou um terço da cidade do Rio de Janeiro ou metade da capital da Bahia, Salvador.
Essa será a dimensão da área que as concessionárias das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Porto Velho, terão que desmatar na Floresta Amazônica rondoniense para a formação dos reservatórios das hidrelétricas que constroem na região. A área é maior do que estimativa inicial e a expectativa é de que cerca de 4 milhões de metros cúbicos de árvores e lenha sejam retiradas da região, volume que preencheria a carroceria de 154 mil caminhões.
Tamanha quantidade de material a ser retirado do local já traz preocupação para as concessionárias.
O presidente da Energia Sustentável do Brasil que constrói Jirau, Victor Paranhos, diz que na área de construção da usina já há grandes volumes de madeira estocada.
Paranhos diz que não é possível hoje se desfazer da madeira sem a segurança de que ela não será usada para uma espécie de "lavagem de madeira".
Nas áreas a serem desmatadas pelas duas usinas, segundo os presidentes das duas concessionárias, já não existe mais madeira de boa qualidade. O presidente de Jirau teme que madeireiros ilegais possam usar o desmatamento a ser realizado na área das usinas para vender madeira ilegal como sendo da concessionária.
Isso poderia acabar se voltando contra as empresas que vão fazer o desmatamento. "Seria preciso certificar e rastrear essa madeira", diz Paranhos.
O Ibama, entretanto, não certifica madeira. Mas, segundo informações do instituto, equipes técnicas já estão nos pátios das usinas fazendo medições e verificando as espécies de árvores cortadas nas áreas de construção das hidrelétricas.
"O Ibama montou ainda uma operação especial de fiscalização para controle e acompanhamento do transporte da madeira extraída nos dois empreendimentos", informou o instituto por meio de sua assessoria de imprensa. "O Ibama tem a certeza de que essa madeira de origem legal irá frear a oferta de madeira ilegal no mercado e, dessa forma, contribuir para a redução do desmatamento na Amazônia." A área a ser desmatada pelas usinas, apesar de significativa, é de menor impacto ambiental que outras usinas hidrelétricas já construídas no país. Isso porque as duas usinas são a fio d"água, ou seja, sem grandes quedas na barragem.
Isso faz com que o volume de energia a ser gerado durante todo o ano seja menor, já que a água armazenada também é em menor volume. De qualquer forma, a área alagada é grande e o desmatamento se faz necessário para evitar que a madeira apodreça e emita gases nocivos na natureza.
As duas usinas do Madeira vão desmatar juntas 357 quilômetros quadrados e é uma extensão bem maior do que a prevista originalmente.
Em Santo Antônio, o presidente da concessionária, Eduardo Mello, diz que por causa de um ajuste de 50 centímetros na altitude do ponto de queda da usina feito pelo IBGE, depois de realizado o leilão, vai fazer com que a área a ser desmatada passe de 7,4 mil hectares a 14 mil hectares (140 km2). Isso também terá um custo extra para a concessionária, em torno de R$ 100 milhões.
O trabalho da preparação do lago também vai envolver a retirada de milhares de famílias da região. Como é o caso da família de Francisco Bezerra, que mora na Vila Teotônio, perto da cachoeira de mesmo nome, que vai desaparecer com o enchimento do reservatório de Santo Antônio.
Bezerra não está preocupado, entretanto, com o desmatamento ou mesmo com o fato de perder sua casa, hoje à beira do rio Madeira.
Ele está mesmo é faceiro com a caminhonete, "carrão", segundo ele, que comprou com o dinheiro da indenização que recebeu da Santo Antônio Energia.
"Achei que eu ia ganhar R$ 10 mil, recebi R$ 160 mil", diz Bezerra.
"Gastei R$ 70 mil na caminhonete, comprei ainda uma Parati e uma casinha em Porto Velho".
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