O Brasil e a União Europeia vão colocar o combate à mudança climática no centro de seu encontro de cúpula na semana que vem, em Estocolmo (Suécia), planejando lançar um mecanismo de cooperação bilateral centrado na promoção de tecnologias limpas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá anunciar aos europeus que o Brasil se comprometerá com ações "mensuráveis" para a redução do efeito estufa na conferência de dezembro em Copenhague. Ao mesmo tempo, cobrará dos países desenvolvidos que assumam compromissos ambiciosos diante do "passivo acumulado" na poluição do planeta.
Lula dará como exemplo a meta de redução de 70% no desmatamento da Amazônia até 2017, enquanto o compromisso de corte das emissões em geral dos países industrializados até agora ficaria abaixo de 15% em relação aos níveis de 1990, na avaliação brasileira. Para o Brasil, os países ricos devem se comprometer com redução de pelo menos 40% de suas emissões até 2020, tendo como base os níveis de 1990. A UE, que é um dos mais ambiciosos entre os desenvolvidos, tem o plano que só representa a metade disso, diante do custo e da pressão da indústria.
O plano dos "três 20" europeu representa corte de 20% na redução de emissões, 20% de incremento da eficiência energética e aumento de 20% no uso de energia renovável até 2020. O terceiro é especialmente importante para os interesses brasileiros, de aumentar exportações de etanol para o mercado europeu. O presidente Lula deverá cobrar dos europeus também o reforço da ajuda para países em desenvolvimento combaterem a mudança climática. Um exemplo que Lula usa é o Fundo Amazônia, pelo qual pode incentivar a baixa no desmatamento.
A UE anunciou que pode contribuir com algo entre € 2 bilhões e € 15 bilhoes por ano para países em desenvolvimento se adaptarem e mitigarem os efeitos das mudanças climáticas. Somando outros mecanismos, como comércio de emissões, o valor pode subir para € 40 bilhões na melhor das hipóteses. Para o Brasil, os europeus estão na direção certa, mas seu total só representa 10% dos US$ 400 bilhões necessários anualmente pelos países em desenvolvimento.
O governo brasileiro espera, em Estocolmo, obter o apoio da UE para uma nova conferência internacional sobre ambiente, a ser realizada em 2012 no Rio de Janeiro, 20 anos depois da Rio-92, primeiro grande encontro global sobre o tema.
O Brasil tomou a iniciativa de propor o mecanismo bilateral sobre mudança climática e a UE reagiu positivamente. Os brasileiros acham que têm também a ganhar com tecnologias para produção de etanol, uso de carros flex, além da expertise nas hidrelétricas, ou seja, produção de energia limpa. Os alemães, sobretudo, não escondem o interesse pelo gigantesco potencial comercial de equipamentos ambientais.
Por sua vez, empresas brasileiras e europeias vão se comprometer na terça-feira a apoiar um amplo acordo climático em Copenhague, que mobilize as grandes economias a reduzir suas emissões rapidamente, com base no princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas.
As companhias também pedirão aos governos para terem cuidado na adoção de medidas na area climática que possam afetar o comércio, numa alusão à taxa carbono que a França está propondo para a UE adotar a fim de sobretaxar importações de mercadorias produzidas com alta intensidade de energia.
Os empresários vão alertar que propostas de sanção comercial levarão a retaliações, numa escalada que acabaria afetando a competitividade das economias europeia e brasileira. Outro tema de importância na cúpula, semana que vem, será a crise financeira, devendo reiterar o que foi discutido no G-20 de Pittisburgh (EUA). Um comitê bilateral Brasil-UE vai se reunir proximamente para discutir regulação financeira.
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