sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Folha - Países querem prêmio por desmatamento

Africanos, com apoio de alguns europeus, demandam inclusão de atividade madeireira em acordo mundial sobre clima

Texto discutido na Tailândia abre brecha para substituir floresta nativa por matas plantadas e ainda ganhar créditos de carbono com isso CLAUDIO ANGELO ENVIADO ESPECIAL A BANCOC

A extração de madeira e a conversão de florestas nativas em florestas plantadas poderá contar créditos como atividade de "redução de emissões por desmatamento", caso prevaleça um texto negociado em Bancoc sobre atividades florestais e clima -o chamado Redd.

O Redd foi provavelmente o tópico de negociação que mais avançou na reunião das Nações Unidas sobre mudança climática que acaba hoje na Tailândia. O texto prevê que os países zerem o desmatamento tropical em 2030, reduzindo a perda de florestas em 50% até 2020.

O documento, porém, deixa em aberto a possibilidade do chamado "manejo florestal sustentável" como atividade de Redd. Ou seja, caso venha a ser aprovada a participação do Redd no mercado de carbono, madeireiros poderão não só se beneficiar do corte de árvores como também vender créditos pela área que eles deixaram de desmatar. O Greenpeace chama o manejo florestal de "madeireiro escondido no Redd".

Uma versão alternativa, defendida pelo Brasil e pela Coalizão das Nações com Florestas Tropicais (que reúne 40 países), é o "manejo sustentável de florestas", que promove unidades de conservação e atividades de comunidades tradicionais.

A delegação brasileira em Bancoc também ficou irritada com a retirada do texto de negociação do Redd de uma frase que garantia a conservação de florestas nativas. Isso, em tese, torna possível ganhar dinheiro fazendo corte raso numa floresta primária na Amazônia ou na África, por exemplo, e plantando eucalipto ou pinus no lugar (já que as florestas plantadas, ao crescerem, retiram carbono da atmosfera).

Congo

A derrubada foi resultado de pressão do Congo, da República Democrática do Congo e de Camarões, que acham que, se não puderem converter parte de suas florestas, vão ter prejuízo.

O representante da República Democrática do Congo disse que incluir a salvaguarda equivalia a "enxotar todos estes países da sala [de negociações]".

"A gente não quer a conversão das florestas", disse a principal negociadora de Redd do Brasil, Thelma Krug, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O texto agora segue para Barcelona, onde acontece a última rodada de negociações antes de Copenhague. "Ficou escancarado que lá vai ser pau", disse Krug.

Segundo Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente, o mais importante do acordo sobre Redd foi a definição de que ele terá três fases. Na primeira, os países farão projetos-piloto e tratarão de adquirir capacidade de fiscalizar o desmatamento.

Na segunda fase, as ações de Redd serão bancadas por fundos voluntários. E só numa terceira fase elas virariam metas nacionais, podendo valer créditos num mercado de carbono. "Um mercado de compensações facilita, porque os investidores já vão apoiar a fase dois, de olho na três", disse Azevedo.

Kevin Conrad, da Coalizão das Nações com Florestas Tropicais, disse que o Redd poderia começar a funcionar imediatamente. No entanto, para que isso acontecesse, seria necessário que os países ricos injetassem de 15 bilhões a 25 bilhões de euros para complementar as ações de redução de desmatamento nos países pobres entre os anos de 2010 e 2015.

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